Olhos de Guaxinim (“Tudo Passa, Tudo Passará” – 2011)

Tudo Passa, Tudo Passará

Link para o disco

01 – Meu Coração é Brega (José Orlando) – 03:30
02 – Eu lhe Peguei no Fraga (Genival Santos) – 02:40
03 – Iza (Bartô Galeno) – 02:47
04 – A Noite Mais Linda do Mundo (Odair José) – 04:00
05 – Cadeira de Rodas (Fernando Mendes) – 05:23
06 – Hey (Julio Iglesias) – 05:32
07 – Rita Caxeado (Genival Lacerda) – 03:15
08 – Tudo Passa, Tudo Passará (Nelson Ned) – 05:14
09 – Cadê Você (Odair José) – 08:41
Tempo total: 41:04

Olhos de Guaxinim
Marcelo Scanzani – guitarra e voz
Felipe Rosário – baixo
Guilherme Shiguero – bateria (exceto faixa 9)
Participação Especial: Ricardo Souza (bateria, faixa 9)

Ano Bissexto

Ano Bissexto (“Año Bisiesto”, México, 2010, Michael Rowe)

Filme muito interessante, mas que no começo dá impressão de ser um filme chatíssimo. O filme todo se passa dentro do apartamento meio pobre e sujo de uma mexicana não bonita e meio gorda, e a sua rotina é claustrofóbica e angustiante: todo dia acorda, toma um café da manhã surrado, vai trabalhar e volta pra casa cansada (parece até aquela propaganda do superpapo, que mostra um cara totalmente entediado com sua rotina tentando achar alguém interessante). E nesse meio tempo, nos fins de semana, ela se arruma (só vemos a ação de dentro do apartamento), e daqui um tempo chega com algum cara, com quem trocam uns beijos, transam sem emoção e logo depois o cara vai embora. Até que ela acha alguém com quem finalmente parece haver um envolvimento. E a química dos dois é algo meio insólito, pois ele se revela um sádico, e ela por carência, por amor, ou por seus instintos mesmo, se revela cada vez mais masoquista, ou seja, é o próprio casal vinte. Hoje em dia, muitos filmes de arte ou de festival usam o recurso de usar imagens explícitas, por mim não há problema, desde que tenham uma utilidade dentro do filme, como é o caso aqui, uma cena em que ela começa a masturbar o cara pedindo com detalhes sobre como quer ser torturada, e o crescendo da intensidade dos pedidos dela aumenta junto com a intensidade da masturbação que ela faz para ele. Pelo que eu lembre, não há quase trilha sonora no filme, porém a música que acompanha os créditos finais é um bregaço mexicano de dilacerar o coração de tão bonito. Um quase filme romântico estranhíssimo. Nota: Muito Bom

Marimbas do Inferno

Marimbas do Inferno (“Las Marimbas Del Infierno”, Guatemala-França-México, 2010, Julio Hernandez Cordon)

Excelente idéia e ótima surpresa este filme da Guatemala!
A começar pelo nome, muito engraçado: Marimbas do Inferno!
A insólita combinação (praticamente uma “idéia de jerico”, no bom sentido, claro) de tentar misturar marimbas em uma banda de heavy metal mais tradicional (ainda que cantado em espanhol!).
E os clichês são ótimos e caricatos. O vocalista da banda de heavy metal, um trintão ou quarentão cabeludo, com camiseta preta com motivos de monstros e tudo. O cara que toca marimba é bem estilo tiozinho, sério, de roupa social e tudo, como um cara que tocou na banda de um amigo meu. E o coitado tem que carregar aquela marimba gigante, arrastando-a pelas ruas.
Quem é músico se vê retratado no filme: a dificuldade de tocar nos lugares, e o desprezo que muitas vezes os donos do lugar tem pelos músicos. E ainda mais no caso deles: uma banda de heavy metal com marimba!!! Muito engraçada essa combinação.
Pois bem, é um paradoxo! Eles podem buscar lugares que tocam heavy metal, mas o pessoal vai torcer o nariz para as marimbas. Então, depois eles foram tocar em um lugar próprio para tocadores de marimba, que aliás é uma tradição fortíssima na Guatemala! Mas aí o pessoal olhou torto e torceu o nariz por causa do heavy metal.
Nesse lugar que eles foram que era próprio para tocadores de marimba, antes deles começou a tocar um conjunto com uns cinco (!!!) tocadores de marimba ao mesmo tempo (!!!). O lugar também era tipo um baile, os donos do lugar viram que os tocadores estavam fazendo sucesso, o pessoal todo estava dançando, simplesmente falaram pra banda que eles não iriam mais tocar. E eles que tiveram um trabalhão pra levar todo aquele equipamento.
Sou músico e já passei por situações assim, é algo realmente muito frustrante.
O filme também tem um personagem que é um drogado que acompanha a banda de heavy metal, e o que ele gosta de cheirar cola.
Pra ser perfeito, seria legal o filme ter mostrado eles tocando em algum show com essa formação, ou pelo menos, mostrando uma música inteira, mas não, só mostraram alguns trechos de ensaio.
E talvez o maior erro: nos créditos finais, colocaram uma música convencional, sem marimbas, da banda de heavy metal do cabeludão, (que aliás, parece que existe na vida real). Pô, o filme chama MARIMBAS DO INFERNO!!! Mesmo assim, nota: Ótimo

Karma

Karma (“Karma”, Sri Lanka, 2010, Prasanna Jayakody)

É… O Sri Lanka está difícil em matéria de filme! Pelo menos o outro filme de lá que eu tinha assistido, “Entre dois mundos” começava muitíssimo bem e depois se perdia totalmente. Agora esse parte de nada e chega no lugar nenhum. O cineasta até tenta fazer alguns “experimentalismos”, mas não lembro de nenhum que tenha surtido efeito interessante. Um filme arrastado demais para uma história relativamente simples: um cara (com cara de coitado) apaixonado pela linda vizinha (lembra um pouco uma indiana, mas mais bonita que a maioria das indianas), ouve como ela é maltratada por seu namorado/marido, que é um brutamontes bem feio que é vocalista de uma banda de rock/heavy metal (aliás, muito ruim a banda dele, som extremamente datado). Ela está grávida do cara ruim, o cara bonzinho quer ajudá-la. E por aí vai. Ele tem uma espécie de amor platônico, e é arriscado filmar isso… E um exemplo de equívoco do cineasta: o cara bonzinho ouvindo que a mulher bonita está tomando banho, vê a água saindo pelo cano para fora de casa, ele põe seu pé para passar a mesma água que passou no corpo dela. É, não sei, parece forçado demais. Serve só como curiosidade para ver um pouco como é um país de que conhecemos bem pouco. Mas, nossa, parecia que o filme não acabava! Nota: Péssimo

O Ultraje

O Ultraje (“Autoreiji”, Japão, 2010, Takeshi Kitano)

Por causa da maratona de filmes que costumo fazer nos fins de semana quando está tendo a Mostra, quando assisti esse no sábado, que já era o quinto filme do dia, confesso que acabei cochilando em alguns trechos. Porém, me arrependi, porque o filme é sensacional. Ainda bem que havia outra sessão para o domingo, e assisti mais uma vez.
Já havia assistido dois filmes do Takeshi Kitano, e não haviam me conquistado, “Brother”, também sobre a máfia japonesa como “O Ultraje”, só que muito lento e com muito silêncio, que acabei achando chato. “Glória ao Cineasta” foi um dos filmes mais estranhos que eu já vi, mas não necessariamente bom, a idéia era boa, metalinguística, mostrando o bloqueio criativo dele como cineasta e tentando experimentar vários gêneros, terror, comédia, violência, e do meio pro fim descamba pra um dos negócios mais absurdos que eu já vi, mas como eu digo, não era exatamente bom.
Depois dessa experiência, o normal seria eu não me empolgar com mais um filme do Takeshi Kitano (que inclusive fiquei sabendo que é apresentador de auditório na televisão japonesa (!!!), e não sendo exatamente programas bons).
Pois então, o que me motivou foi o fato de que ele havia sido vaiado em Cannes, por causa de sua violência exagerada e excesso de sangue na tela. Pô, isso é um bom sinal!!!
Cannes não gostou, depois dele fazer filmes sensíveis, como “Dolls”, ou metalinguísticos como “Glória ao Cineasta” e “Aquiles e a Tartaruga”, ele havia voltado para um dos estilos em que ele já havia feito vários outros filmes: sobre gangsters.
Pois bem, o que “Brother” tinha de “sério” e “lento”, esse tem de escrachado, divertido e violento.
Possivelmente uma obra-prima (um pouco irreverente) sobre a máfia japonesa. Uma tomada aérea com todos os carros dos gangsters iguais e em fila. Um almoço muito chique em que gangsters que se tratam muito cordialmente e logo estarão se matando a torto e direito.
Uma das coisas mais engraçadas do mundo são japoneses discutindo quando estão bravos, e ele soube explorar muito bem isso. E um quer falar mais alto e sério que o outro. Impagável!
Outro ponto alto são as cenas de violência exagerada! Uma das melhores é uma em que eles vão se vingar de um gangster, e ele está no dentista; ele está deitado na cadeira esperando o dentista voltar, quando um deles chega e começa a arrebentar toda a parte de dentro da boca do cara com o motorzinho do dentista, é só sangue que voa! Dói na alma só de imaginar.
Outro gangster que eles precisam pegar trabalha num restaurante de sushi, eles vão até o cara e enfiam o hashi na orelha do cara. Mais sangue que jorra!
O próprio Takeshi Kitano faz um dos principais gangsters do filme, em uma cena ele arrebenta a cara de um gangster com um estilete!
E mais uma: eles pegam um cara num carro, vendam o cara, amarram o pescoço do cara com uma corda, um cara amarra a corda num poste, e fala pro outro: pode acelerar!
Tem uma hora que começa uma seqüência impressionante de matança! São tantas que você perde a conta! E ainda são todas estilizadas, em câmera lenta e tudo.
Sensacional! Obra-prima!
Praticamente um “Poderoso Chefão” japonês… Só que com muito mais humor!
Nota: Excelente

Distant Thunder

Distant Thunder (“Distant Thunder”, China, 2010, Zhang Jiarui)

Filme que começa leve, divertido e com uma fotografia e cores belíssimas. Um menino tímido não consegue se enturmar muito e nem arrumar namorada. Ao passar em frente a um salão de cabeleireiras, com conotação sexual (olha o mesmo tema do filme anterior), ele se apaixona por uma linda garota que trabalha lá. Essas garotas são alvo de muita discriminação. Porém, ele faz questão de namorar com ela. O que parecia ser um filme leve e divertido, muda totalmente para um drama, onde a mão muito pesada do diretor praticamente põe tudo a perder. É mais um daqueles filmes de loucura, onde a realidade é totalmente diferente do que se passa na cabeça do personagem, no caso esse menino, que parece ser esquizofrênico ou algo do tipo. Nota: Regular

Bi, Não Tenha Medo

Bi, Não Tenha Medo (“Bi, Dung So!”, Vietnã-França-Alemanha, 2010, Dang Di Phan)

Às vezes, a pessoa que está lendo pode pensar, depois de ler duas críticas ruins em seguida: “poxa, mas ele vai ver os filmes da Mostra e só fica metendo o pau neles, será que é masoquismo?”. Pois então, esse filme, também do Vietnã, assim como “Impacto” é um exemplo do que me motiva a “atirar no escuro” quando escolho filmes neste evento. “Bi, Não Tenha Medo” lembra um pouco a “obsessão sensorialista” de “O Sabor da Melancia”, só que aqui ao invés de melancia é o gelo (há uma cena na praia em que dois garotinhos estão brincando e estão destroçando uma melancia… será uma referência ao filme citado?). O filme tem um frescor e uma dinâmica que está presente em grande parte dos filmes orientais. Conta mais ou menos a história de uma família, se bem que isso parece não importar tanto quanto gerar imagens e sensações memoráveis. Bi é um menininho de uns 8 ou 10 anos, muito curioso, que está na fase de descobrir coisas, seu irmão mais velho trabalha numa fábrica de gelo, e Bi gosta de ir na fábrica ver como o gelo está sendo fabricado, e tudo é brincadeira pra ele. Interessante a fixação em filmar o gelo na fábrica, e há cenas bonitas com relação a isso. Há uma mulher de mais ou menos 25 anos, que está meio que procurando namorado, começa a sair com um cara um pouco mais velho, mas parece não estar gostando muito dele, ela é professora e se apaixona por um dos seus alunos, que deve ter mais ou menos uns 15, 16 anos, mas ela não se declara para ele, e em uma cena, logo depois de chegar da escola, ela começa a se masturbar com um pedaço de gelo (!!!). (Olha uma idéia interessante que poucos casais devem conhecer… rs). Em outra cena, ela o segue pra ver jogar futebol com seus amigos na praia, ela escondida no mato vendo o menino, é pretexto para mostrar uma chuva tropical, tão comum naquela região, recurso que o Apichatpong Weerasethakul também costuma usar (a Tailândia é perto, tem um clima parecido). Outra mulher da casa é apaixonada pelo marido, mas ele não dá a mínima pra ela, sai e fica dias sem voltar pra casa. Ele está apaixonado por uma cabeleireira (!), onde parece que no Vietnã existem mulheres que cobram um pouco mais caro para lavar o cabelo dos homens de uma forma mais carinhosa (!!), mas ela ficou ofendida quando ele quis transar com ela (!!!). E ele não dá a mínima para a esposa dele, muito bonita e cheia de amor pra dar. O pai de seu marido vai para a casa em que sua família mora, pois ele está doente, e ele é atencioso e carinhoso, ela começa a se envolver com ele, mas pelo que eu lembre não sei se chega a acontecer algo entre os dois, mas é mostrado de uma forma romântica e sensível, meio platônica até. Outro ponto interessante, além das mulheres muito bonitas (não sei se é no filme que são assim…), que também dá vontade de conhecer o país, são as cenas em que mostram eles comendo na rua, em grandes woks, a comida parecia ser saborosossíma, dava água na boca. Gostaria de ver mais vezes este filme. Nota: Ótimo

Impacto

Impacto (“Bay Rong”, Vietnã, 2009, Le Thanh Son)

Filme de ação e artes marciais do Vietnã(!!!). Bom, filmes de países tão fora do circuito e desconhecidos para nós geralmente são melhores quando são originais e/ou trazem um pouco da cultura, costumes, ou até paisagens do país. Quando tentam copiar Hollywood geram coisas bisonhos como esse “Impacto”. Apesar de ser relativamente bem produzido, ter a idéia interessante da personagem principal ser uma mulher, é um desfile tão grande de clichês de filmes de ação hollywoodianos, por exemplo: sempre tem aquelas cenas sentimentais com música dramática para emocionar o público. Poderia ser simplista e dizer que o resultado é bem ruim, mas parando pra pensar e não sendo tão chato, as cenas de luta são bem feitas, e perto do final há umas reviravoltas interessantes. Nota: Regular

O Efeito Tequila

O Efeito Tequila (“El Efecto Tequila”, México, 2010, Leon Serment)

Também do México, mas muito diferentemente de “Ano Bissexto”, este é relativamente bem convencional, parece que foi intencionalmente feito para televisão, lembrando até novela da globo, só um pouquinho melhor. Efeito Tequila foi um evento que aconteceu na economia mexicana, onde houve uma crise fortíssima depois de um muito exagerado otimismo. O personagem principal ganhava muito dinheiro especulando com capital de terceiros no mercado de ações, e foi pego de calças curtas. O chefe dele é ainda mais picareta que ele, e para comemorar um lucro alto que conseguiram numa operação, vão para uma praia paradisíaca cheia de belas mulheres. E aí mostra-se a crise familiar, pois ele só traz dinheiro para a mulher e para os filhos, mas não lhes dá nem tempo e nem atenção. Talvez o fato mais interessante foi fora do filme: a sessão foi no Centro Cultural São Paulo, onde inclusive a sala deixa bastante a desejar, e estavam presentes o cineasta e a atriz principal, muito bonita, por sinal, além de outros integrantes da equipe. Havia um bêbado na sala, daqueles maltrapilhos e fedendo a cachaça, que parece ter sido trazido por um amigo, e o bêbado parece ter se empolgado com o nome do filme, mas ele começou a cochilar e a falar alto, meio dormindo coisas sem nexo, às vezes meio que xingando, gerando uma situação bastante desagradável e constrangedora, ainda mais pelo cineasta estar presente. Nota: Regular

Os Amores de um Zumbi

“Os Amores de um Zumbi” (“Les Amours D’Un Zombi”, Arnold Antonin, Haiti, 2009, colorido, digital, 90 min)

Como eu estou escrevendo sobre os filmes na ordem em que eu assisti, esse foi o primeiro grande filme que eu assisti nessa Mostra de 2010, e mostra o porquê de eu garimpar os filmes mais obscuros, acabei assistindo um dos filmes mais engraçados e surreais que eu já vi na minha vida.
Único filme do Haiti nesta Mostra, além de ter um nome ótimo, a sinopse também é muito instigante. Um cara jovem foi assassinado por um senhor idoso que pegou a esposa dele na cama com o cara. Depois de morrer o cara vira zumbi e aparece numa rede de televisão dando entrevista coletiva. Sempre com um saleiro na mão (a lenda diz que os zumbis tem que ficar comendo sal), o zumbi diz, justamente com uma cara de morto-vivo: “eu não quero nada, só quero encontrar minha amada”, e sempre que ele pode, fala o nome da mulher (que agora eu não lembro).
É muito bom e interessante ver um filme de zumbi e vodu feito pelos próprios haitianos, justamente de onde vem essa tradição e folclore, e não por outros, com sua visão já pré-concebida.
Vi na internet algumas críticas descendo a lenha nesse filme, mas tem muita gente que leva as coisas muito a sério, e para quem é fã de filmes trash, B, de baixo orçamento, tosco, mal-feito, estilo Ed Wood e companhia, é um prato cheio!!!
O vodu haitiano tem muitas semelhanças com a umbanda e candomblé brasileiros. Um cara que seria uma espécie de pai de santo do vodu percebe que ter um zumbi ao vivo impressionaria seus clientes. E o zumbi não perde a oportunidade de fazer suas traquinagens e peraltices. O primeiro de seus clientes é um cara que está desconfiado que sua mulher o trai, e lá eles tem a crença que um zumbi é ótimo para vigiar alguém, o cara paga para o pai de santo para poder contratar o zumbi vigiar sua mulher, e não dá outra, o zumbi acaba transando com a mulher do cara. Outro cliente do pai de santo é um político, que ajoelha e pergunta para o zumbi se ele irá ganhar as eleições, o zumbi (depois de mijar no cara (!!!)) fala que ele pode fazer um golpe de estado que irá dar tudo certo. E é claro que não dá e o político vai preso.
Porém, o lado romântico do zumbi fala mais alto, e ele até pede para aparecer na tv e dar outra entrevista, só pra poder falar de sua amada. O povo, que em geral é fã de histórias de amor, faz o zumbi ficar cada vez mais famoso, até virar uma celebridade.
E os políticos não perdem tempo em ver ali uma oportunidade: lançar o zumbi como candidato à presidência da República! Por que não? (Quem não lembrou do Tiririca?)
E aí que entra o barão do cemitério, que também está apaixonado pela mesma mulher, e que exige que ele escolha entre a candidatura ou à mulher amada, no que ele escolhe a mulher. O barão e seus asseclas, espíritos que ficam rondando pelo cemitério, tem um covil cheio de caveiras e velas, e ambientado de forma bem sinistra, mas apesar disso eles estão mais pra turma do Penadinho do Mauricio de Sousa do que qualquer coisa, e isso é um ponto positivo. Foi uma volta à infância, pois quando eu era criança eu achava muito divertido esses lances com caveiras e tal. Tem uma hora que o barão do cemitério, que é um baixinho meio velho de fraque, cartola e bengala, está assistindo a televisão, que está em cima de um túmulo, e em cima da televisão tem um crânio e dentro do crânio uma vela, e na televisão está passando futebol, e ele fala “vai Robinho”, o do Brasil, no que eu me lembro a vez que o Brasil foi jogar futebol lá no Haiti, acho que ganhando de 5 a 0, mas a alegria do povo de lá foi imensa por ver ídolos brasileiros como Robinho, Ronaldo, Ronaldinho.
A maioria das mulheres no filme são negras muito bonitas, tanto de rosto como de corpo, muito bom gosto o do cineasta.
E pra não dizer que não fiz nenhuma crítica, não gostei do final, que é confuso.
Como algumas críticas ressaltaram, o filme realmente tem um lado político, mas é feito com muito bom humor ao contrário da maioria dos filmes políticos, só que um dos lados polít
icos que eu acho que pouca gente percebe é ter orgulho de sua tradição e folclore vodu, e ajudar a divulgar e mantê-los, bem diferentes de filmes como “Impacto” do Vietnã, que eu também assisti nessa mostra, que só quer imitar os filmes hollywoodianos, mas claro que sem o mesmo talento.
Ao assistir esse filme me fez lembrar de uma banda de ska-core muito boa, eles tocam bem rápido, diferente da maioria das bandas de ska-core, e com muitos arranjos de metais bem criativos, e eu havia ouvido uma música há muito tempo, e que havia procurado o disco e não encontrado, Voodoo Glow Skulls, cuja temática e arte dos discos é toda homenageando o vodu. Porém, com as facilidades da internet, agora estou ouvindo o ótimo disco “Baile de Los Locos”.
Ah, a Mostra e o Mubi disponibilizaram alguns filmes para assistir on-line, mas para um número limitado de acessos: http://mubi.com/films/34289
E também procurem ouvir o disco “Baile de Los Locos” do Voodoo Glow Skulls. (Excelente/Clássico)

PS: Uma crítica sobre o “Amores de um Zumbi” que eu gostei foi uma que comparou o trabalho desse cineasta com o cinema filipino em geral, pois ambos fazem um cinema que não tem vergonha de ser de terceiro mundo, e não tentam emular ser o que não são: http://almanaquevirtual.uol.com.br/ler.php?id=25784&tipo=23&tipo2=almanaque&cot=1